TIPOS DE BIPOLARIDADE
A bipolaridade pode se manifestar em diversos graus e padrões, que são representados em uma classificação de I a IV, além da ciclotimia.
Tipo 1
É a forma mais intensa de bipolaridade por apresentar fases de mania plena, com consequências maiores e franca alteração do humor. Também ocorrem fases de hipomania.
Relato de Caso:
Leandro sempre foi ativo e social, mas com 22 anos começou a ter fases em que ficava mais hostil e arrogante. Chegou a ter alguns problemas em festas e aumentou o consumo de álcool. Começou a ficar mais agitado durante uma semana, falando muito, com muitas ideias e poucas horas de sono por noite.
Na semana seguinte ficou claramente eufórico, acelerado, não parava de falar, trocava de assunto toda hora, tomava a liberdade de abraçar e beijar mesmo quem não conhecia, querendo lhes passar sua "energia contagiante", pois se sentia iluminado e poderoso (quadro de mania).
Sua namorada reclamou da busca excessiva de sexo e da indiscrição de Leandro ao cantar suas amigas na frente dela. Seus pais percebiam que algo de muito anormal estava acontecendo e, por causa da sua indiscrição social, da grandiosidade desmedida e dos gastos desmedidos de Leandro em festas e em acessórios para o carro, foi feita uma internação.
Leandro melhorou bastante com o tratamento com lítio e uma dose baixa de um antipsicótico, tendo alta três semanas mais tarde. No entanto, se negou a continuar o tratamento, o que o levou a ter uma nova crise maníaca seis meses mais tarde, dessa vez ficando internado por um mês.
Permaneceu em tratamento por um ano sem crises e por conta própria foi reduzindo a medicação e se afastando do seu psiquiatra. Quatro meses mais tarde teve um período de uma semana com sintomas de euforia e aceleração, que logo evoluíram para uma fase depressiva com muita apatia e sono.
Ficou internado por 5 semanas, voltou a tomar estabilizadores de humor com boa recuperação e desde então está bem engajado no tratamento, sem crises há 3 anos.
Tipo 2
Relato de Caso:
Joana era conhecida pelo seu temperamento forte e seu estilo extravagante. Na escola, era líder da turma e algumas vezes enfrentou os professores. Em sua profissão teve um destaque precoce pela ousadia, originalidade e dedicação extra aos projetos que criava, aos quais se entregava de corpo e alma. Nesses momentos, ficava pilhada, só falava nos seus projetos, dormia pouco, gastava demais em produtos de beleza e às vezes ficava irritada e intransigente com os outros, que não seguiam o seu ritmo (hipomania).Aos 24 anos passou a ter momentos de muita ansiedade e irritabilidade, comia exageradamente, se desorganizou nas contas e seu padrão de sono ficou instável (humor misto). Passou então a sentir-se triste, emotiva, sem ânimo para trabalhar, algumas noites tinha insônia porque o pensamento não parava e em outras fases dormia até 12 horas seguidas. Esse período instável durou cerca de 3 meses e melhorou espontaneamente na primavera.
Alguns meses mais tarde os sintomas voltaram e ela os relatou para o seu ginecologista, que lhe prescreveu um antidepressivo. Joana sentiu que piorou da ansiedade e ficou ainda mais agressiva. Parou o tratamento em uma semana e o ginecologista a encaminhou para um psiquiatra, que sugeriu outro antidepressivo. Dessa vez a medicação teve um efeito rápido, sendo que estava bem melhor em uma semana (o que é rápido demais para um efeito antidepressivo genuíno), mas depois de 6 meses voltaram os sintomas de maneira mais leve.
O aumento da dose do antidepressivo a deixou mais agitada, sem melhora, com oscilações de humor frequentes. Resolveu trocar de psiquiatra, que revisou o caso junto com a família e dessa vez identificou os sintomas prévios de hipomania e a história de bipolaridade e alcoolismo na família materna. Associou então um estabilizador de humor e aos poucos foi retirando o antidepressivo.
Joana hoje se sente bem, sem os excessos de antigamente, sem sintomas depressivos e sem efeitos colaterais da medicação. Pode reorganizar sua rotina, passou a fazer exercícios físicos e a dormir mais, o que possibilitou uma pequena redução da dose do estabilizador de humor.
Tipo 3
É semelhante ao tipo II, mas o quadro de hipomania ou até mania acontece só com o uso de antidepressivos ou psicoestimulantes. No entanto, o temperamento da pessoa tende a ser mais forte e dinâmico e pode voltar a ter elevações espontâneas do humor mais tarde.
Relato de Caso:
Adriana era uma arquiteta casada que teve um filho aos 28 anos. Alguns dias após o parto, ficou chorosa e desanimada, com dificuldades de cuidar do filho, mas se recuperou um mês mais tarde sem tratamento. Aos trinta anos voltou a sentir tristeza e desânimo, o sono aumentou para 11 horas por dia, não conseguia se levantar de manhã e passou a ter dificuldades de concentração no trabalho.Como não melhorava, procurou uma psicóloga, que identificou sua fase depressiva, iniciou uma psicoterapia de apoio e a encaminhou para o psiquiatra para medicá-la. O psiquiatra prescreveu um antidepressivo e um calmante.
Adriana passou a se sentir muito bem em duas semanas, largou a terapia, começou a sair com as amigas solteiras para festas e a comprar roupas caras. Seu marido começou a perder a paciência e disse a Adriana que ela estava muito saliente e gastando sem necessidade (hipomania). Adriana disse que a vida era para ser vivida intensamente e que se ele não estivesse satisfeito, que fosse embora.
Seu marido ligou para o psiquiatra, que percebeu a virada do humor para a hipomania e orientou que suspendessem o antidepressivo e o procurassem no dia seguinte. Adriana foi a contragosto, mas o psiquiatra explicou que o antidepressivo fez com que ficasse eufórica, imprudente e com excesso de energia, e por isso, sua medicação tinha que ser trocada.
Adriana aceitou a mudança para um estabilizador de humor por entender que isso estava prejudicando suas relações. A retirada do antidepressivo causou algum desconforto, como tonturas e ansiedade, mas em uma semana seu marido informou que ela estava de novo reagindo como costumava.
Semanas mais tarde, Adriana reclamou de que estava se sentindo sem graça, vendo a vida em preto e branco. O psiquiatra aos poucos substituiu seu remédio por um outro estabilizador de humor mais eficaz para fases depressivas e Adriana ficou muito bem, mas sem excessos, riscos ou euforia.
Tipo 4
São pessoas que têm um temperamento mais arrojado, empreendedor, jovial e expansivo, que passam a ter o humor mais turbulento e depressivo na meia-idade.
Relato de Caso:
César era um empresário que tinha se destacado na carreira pela ousadia e criatividade, fazendo com que seu pequeno negócio virasse uma empresa de referência na área.Aos 53 anos, procurou o psiquiatra por perceber que não tinha mais prazer no seu trabalho, tinha enjoado dos amigos, achava que todos à sua volta queriam "puxar o saco" para tirar vantagem, e passou a ficar mais tempo em casa na cama, pensando inclusive em se matar.
Seu pai havia sido um homem arrojado e festeiro, tinha ganhado e perdido muito dinheiro na vida, e acabou cometendo o suicídio aos 56 anos de idade em uma fase turbulenta.
O psiquiatra identificou as manifestações de humor elevado e instável, assim como o temperamento forte de César e seu pai. Por isso, prescreveu um estabilizador de humor eficaz nas fases depressivas e propôs uma terapia breve.
César ficou bem melhor em poucas semanas e também mudou seu estilo de vida, passando a valorizar o contato com a família e os amigos, voltou a fazer trabalhos em madeira como hobby e a jogar tênis. Há 4 anos não tem alterações de humor e se diz muito satisfeito com sua vida.
Ciclotimia
É um humor oscilante e desregulado, com sintomas de humor elevado e depressivo, mas que não chegam a configurar fases marcadas de hipomania ou depressão.
Relato de Caso:
Fernanda é uma pessoa conhecida pelo seu temperamento forte, pelo seu estilo 8 ou 80 e pela franqueza. É muito influente no seu grupo de amigas e no escritório de advocacia em que trabalha. No entanto, seus relacionamentos íntimos eram muito conturbados pela instabilidade do seu humor, que esteve melhor enquanto fazia exercícios físicos 4 vezes por semana.Nos últimos 2 anos, no entanto, percebe que as fases de irritabilidade e apatia ficaram mais fortes e frequentes. Fica indignada por não conseguir aproveitar o que tem, como se sempre estivesse faltando alguma coisa.
Quando foi à psiquiatra, disse ter puxado ao seu pai, que tinha frequentes ataques de explosividade e humor carregado. Quando a psiquiatra perguntou se era uma pessoa de altos e baixos, Fernanda respondeu: "TOTAL!".
O primeiro estabilizador de humor foi substituído por causa de um efeito colateral, mas o segundo foi eficaz e bem tolerado. Voltou com seu ex-namorado, que brinca ao dizer que não voltou a namorar a mesma Fernanda, porque aquela Fernanda explosiva, irritada e ciumenta não tem nada a ver com a atual.
Depressão unipolar
Não faz parte da bipolaridade.
Trata-se de uma queda do humor, em geral mais gradual (semanas a meses) e relacionada com eventos estressores que a pessoa tenha vivenciado. O antidepressivo reestabelece o humor em algumas semanas sem causar excessos de humor na direção da mania.
Relato de Caso:
Eunice estava com 55 anos e era principal cuidadora da sua mãe, que estava com a doença de Alzheimer. Sua mãe vinha causando vários problemas pelo comportamento imprevisível e agitado, deixando Eunice sempre em estado de alerta. Essa situação já vinha ocorrendo há mais de um ano, mas vinha se agravando.Eunice passou a se sentir impotente, chorava sozinha, perdeu o prazer em outras coisas, seu apetite diminuiu e passou a ter insônia. Seu desânimo começou a prejudicar seu rendimento e várias vezes queria fugir para bem longe de casa. Seu temperamento era cordial e sereno, e sua família não tinha história de bipolaridade.
O psiquiatra indicou o tratamento com um antidepressivo. Três a quatro semanas mais tarde, Eunice referiu estar se sentindo mais forte novamente e seus sintomas diminuíram bastante. Seu humor não ficou exaltado demais ou irritável.
Fonte:http://www.bipolaridade.com.br/
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