sábado, 17 de novembro de 2012

ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário.
Antigamente, esses indivíduos eram colocados em sanatórios para loucos, porque pouco se sabia a respeito da doença. No entanto, nas últimas décadas, houve grande avanço no estudo e tratamento da esquizofrenia que, quanto mais precocemente for tratada, menos danos trará aos doentes.

PRINCIPAIS SINTOMAS

Drauzio – A esquizofrenia é uma doença conhecida há quanto tempo?
Wagner Gattaz – Há alguns milênios eram descritos casos de psicose que, segundo os critérios atuais, poderiam ser classificados como esquizofrenia. Por isso, dizemos que a esquizofrenia é uma doença própria da natureza humana e que sempre existiu, pelo menos é o que provam descrições históricas muito antigas.
Drauzio – Quais são seus principais sintomas?
Wagner Gattaz – Grosso modo, há dois tipos de sintomas: os produtivos e os negativos. Os sintomas produtivos são, basicamente, os delírios e as alucinações. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele. Imagina, por exemplo, que instalaram câmeras de vídeo em sua casa para descobrirem o que faz a fim de prejudicá-lo.
As alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte.
Delírio e alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapidamente ao tratamento. No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizentes com a situação externa.

Drauzio – Cite exemplo de um caso que você encontrou na clínica.
Wagner Gattaz – Vou citar o exemplo de um caso de esquizofrenia do tipo paranoide que ocorreu ainda no tempo da Guerra Fria. O paciente tinha convicção absoluta de que a energia de seus pensamentos estava sendo roubada por um satélite russo e era transformada em energia bélica para destruir os satélites americanos.

Drauzio – O paciente considera o que sente absolutamente lógico e real?
Wagner Gattaz – Existe uma lógica perfeita dentro do delírio, só que ela não corresponde à realidade. Uma das características do delírio, aliás a que o diferencia do erro, é que não se consegue removê-lo com contra-argumentação lógica. A convicção é absoluta e tentar dissuadi-lo, é inútil. Ouvir – “Imagine, você não está sendo perseguido. Você está imaginando coisas” -, basta para acreditar que está diante de mais um de seus perseguidores, de alguém que faz parte do complô armado para destruí-lo.

SINTOMAS NEGATIVOS

Drauzio – Como transcorre o dia a dia de um paciente com sintomas negativos?
Wagner Gattaz – Na verdade, 80% das esquizofrenias começam com os sintomas negativos. Delírio e alucinação chamam mais a atenção. Já os sintomas negativos ocorrem mais no íntimo das pessoas e causam menos impacto nos outros. É o caso do indivíduo que, certo dia, não vai trabalhar, não avisa ninguém e passa o dia todo deitado, tomando café e fumando. A família percebe o olhar distante, como se estivesse em outro mundo. Ele não se importa com o que acontece ao redor, não cuida da higiene pessoal nem se alimenta direito. Geralmente, esses sintomas marcam o começo da doença, a fase chamada tremapsicótico, marcada por tensão e ansiedade muito grande. A pessoa sente que algo está acontecendo, mas não sabe dizer o que é.

Drauzio – A família percebe que ele está diferente e não se relaciona com os outros como fazia antes. O paciente nota essas mudanças?
Wagner Gattaz – Ele percebe que algo está acontecendo a seu redor, mas acha que são coisas que os outros estão armando contra ele. Isso é característico da esquizofrenia. O paciente se considera uma vítima das circunstâncias externas. Na verdade, nesse momento, não tem a consciência crítica de que está adoecendo.

EVOLUÇÃO DO PROCESSO ESQUIZOFRÊNICO

Drauzio – Você diz que, em geral, a doença começa por um certo alheamento em relação às circunstâncias que rodeiam o paciente e que o quadro de alucinações e delírios surge mais tarde. Como se processa a evolução da doença?
Wagner Gattaz – Varia de indivíduo para indivíduo. O processo esquizofrênico pode levar anos. Como já mencionei, na fase inicial, a sensação de que algo está acontecendo, mas o paciente não sabe o quê, é caracterizada por muita tensão e ansiedade. Em determinado momento, porém, ele fala – “Estou sem forças, porque estão tramando algo contra mim e colocaram veneno na minha comida”.  Essa explicação delirante é suficiente para diminuir o nível de tensão e ansiedade. É como se a pessoa tivesse uma dor de causa desconhecida e, de repente, chegasse a um diagnóstico que, de algum modo, a tranquilizasse.

Drauzio – Esses sintomas, tanto os produtivos quanto os negativos, comprometem outras áreas da cognição. Eles permitem que a pessoa continue estudando, aprendendo coisas novas, exercendo suas funções no trabalho?
Wagner Gattaz – Durante um certo tempo sim, enquanto a vontade e os impulsos estiverem preservados. A partir do momento em que são diminuídos e achatados, a atividade do dia a dia fica seriamente prejudicada. Num estágio mais avançado da doença, ocorre prejuízo cognitivo e de funções como concentração e memória.

REAÇÃO DOS FAMLIARES E CONSUMO DE DROGAS

Drauzio – Como costumam reagir os familiares quando percebem que a pessoa não vai trabalhar, está esquisita e menos afetuosa?
Wagner Gattaz – No início, a reação é de perplexidade. A família não encontra explicações para a mudança de comportamento e uma das primeiras perguntas que faz é se a pessoa não estaria consumindo drogas. Quando começam as alucinações, então, aumenta a suspeita de que isso possa realmente estar acontecendo.
Na verdade, o uso de drogas não é raro na esquizofrenia, não como causa, mas como consequência. Sabemos que, no início, algumas drogas exercem certo efeito sedativo, tranquilizante, o que nas fases de ansiedade e tensão pode melhorar o humor do paciente.

Drauzio – Qual a droga procurada com mais freqüência? Existe alguma que acelera o processo de instalação da esquizofrenia?
Wagner Gattaz – A mais procurada é o álcool. A maconha também é usada, porém com menos frequência. Consumo de drogas mais pesadas costuma ser raro.
Bom lembrar que as anfetaminas, popularmente conhecidas de bolinhas, quando tomadas em excesso, podem provocar psicoses clinicamente idênticas à esquizofrenia. Clinicamente, é impossível diferenciá-las. Aliás, o melhor modelo artificial de uma psicose esquizofrênica é o causado pelas anfetaminas. A cocaína também pode provocar quadros psicóticos semelhantes, mas não tão característicos quanto aos das anfetaminas.

Drauzio – Sabe-se que a cocaína provoca delírios persecutórios. O álcool pode disparar processos semelhantes? Tive um paciente que bebia muito e acordou no meio da noite ouvindo uma voz que o mandava matar a mulher. Ficou tão apavorado, que saiu a andar pelas ruas. Quando voltou para casa pediu à mulher que o levasse para o hospital, porque algo de errado estava acontecendo com ele. 
Wagner Gattaz – O álcool pode desencadear paranoias. A grande diferença entre a paranoia da esquizofrenia e a alcoólica reside no fato de que, neste último caso, os pacientes reconhecem a anormalidade da situação e pedem ajuda. Isso não ocorre pelo menos no primeiro surto esquizofrênico. Com o tempo, entretanto, alguns pacientes aprendem a detectar os chamados pródomos da doença, ou seja, as manifestações que antecedem o desencadear da psicose. Esses ligam para o médico, pedem ajuda, querem rever a medicação. Infelizmente, não mais do que 20% dos pacientes com esquizofrenia têm esse insight, isto é, a capacidade de perceber a crise psicótica está voltando.

MANIFESTAÇÃO NOS DOIS GÊNEROS

Drauzio – Em geral, a esquizofrenia se instala em que faixa de idade?
Wagner Gattaz - A esquizofrenia se instala em pessoas jovens. O pico da instalação se dá, no homem, por volta dos 25 anos de idade. A mulher parece estar um pouco mais protegida. Nela a doença ocorre mais tarde, por volta dos 29/30 anos. A incidência, porém, é igual nos dois sexos. A proporção é de um homem para cada mulher com a doença.

Drauzio – Nas mulheres, a evolução é mais lenta e menos grave do que nos homens?
Wagner Gattaz – É mais benigna na mulher. Mais benigna provavelmente por dois fatores: a instalação da doença ocorre mais tarde e elas se casam mais cedo. Assim, antes da manifestação da psicose, a mulher tem a possibilidade de construir uma rede social e familiar que vai ajudá-la no decorrer da doença. Coisas simples como tomar medicação de forma adequada e procurar o médico precocemente fazem muita diferença.
Por casar-se mais tarde e a doença instalar-se mais cedo, frequentemente o homem não construiu ainda uma estrutura familiar que lhe dê respaldo. Outro motivo, ainda objeto de pesquisa, que torna a doença mais amena na mulher, é que os hormônios sexuais femininos, os estrógenos principalmente, têm na célula nervosa um efeito semelhante ao dos medicamentos antipsicóticos. É como se a mulher possuísse um antipsicótico endógeno protegendo-a contra as manifestações da doença.

Drauzio – Isso justificaria a instalação mais tardia e a evolução mais benigna da doença na mulher?
Wagner Gattaz – Sem dúvida. É raro o homem adoecer pela primeira vez depois dos 40 anos de idade. No entanto, cerca de 10% das mulheres têm o primeiro surto psicótico esquizofrênico depois dos 45 anos, época em que ocorre a menopausa e cai a produção de estrógenos.

ÍNDICE DE PREVALÊNCIA

Drauzio – Qual o índice de prevalência da esquizofrenia na população de modo geral?
Wagner Gattaz – A esquizofrenia é uma doença frequente e universal que incide em 1% da população. Ocorre em todos os povos, etnias e culturas. Existem estudos comparativos indicando que ela se manifesta igualmente em todas as classes socioeconômicas e nos países ricos e pobres. Isso reforça a ideia de que a esquizofrenia é uma doença própria da condição humana e independe de fatores externos. Em cada 100 mil habitantes, surgem de 30 a 50 casos novos por ano.  Neste momento, 5% da população mundial têm esquizofrenia. Portanto, em termos de Brasil, isso significa que 800 mil habitantes são portadores dessa doença.

FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS

Drauzio – O fato de a incidência da esquizofrenia ser mais ou menos igual em todas as sociedades faz supor que exista uma base neurobioquímica que justifique seu aparecimento.
Wagner Gattaz – Existe um componente genético importante. O risco sobe para 13%, se um parente de primeiro grau for portador da doença. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior o risco, chegando ao máximo em gêmeos monozigóticos. Se um deles tem esquizofrenia, a possibilidade de o outro desenvolver o quadro é de 50%.

Drauzio – Como não são todos da mesma família que desenvolvem o quadro, é possível pensar que fatores ambientais colaborem para o aparecimento da doença?
Wagner Gattaz – Estudos genéticos são o melhor argumento de que nem tudo é genético. Existe uma contribuição ambiental. Pena que até hoje não tenhamos conseguido isolar um único fator que aumente com certeza o risco.
Nesse sentido, a esquizofrenia pode ser comparada a muitas outras doenças em que não existem 100% de penetrância genética. É necessário haver uma interação de fatores gerais que vão desde o nascimento (há um número maior de esquizofrênicos nascidos nos meses mais frios) até fatores dietéticos, mas sem uma resposta conclusiva. Sabe-se que existe uma gama de fatores que causam ou impedem o desencadeamento da doença.

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO

Drauzio – No passado, o tratamento da esquizofrenia era precário. Hoje, houve um grande avanço farmacológico nessa área. Qual a melhor estratégia para tratar uma pessoa com essa doença?
Wagner Gattaz – Realmente, o progresso foi muito grande. Na verdade, começou no início dos anos 1950 com a introdução do primeiro medicamento antipsicótico. Ele provocou um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos que eram usados como asilos para esses pacientes no passado. De lá para cá, esses medicamentos evoluíram muito. Hoje existem medicamentos com poucos efeitos colaterais que atuam nos sintomas negativos da doença.
Essa é a questão-chave. Como foi dito, o paciente com psicose esquizofrênica nem sempre tem consciência crítica de seu estado mórbido. Por que iria, então, tomar remédios para o resto da vida, ainda mais se têm efeitos adversos? Por isso, a principal causa de recaída da doença era o abandono do tratamento. Com o advento de novos medicamentos que são mais bem tolerados, aumentou a aderência do paciente ao tratamento e sua continuidade mesmo depois que desaparecem os sintomas.
Além disso, como qualquer doença na medicina, quanto mais precocemente começar o tratamento, melhor. Não só porque o início precoce impede que a doença provoque danos mais sensíveis na personalidade do paciente, mas também evita que ele abandone sua rotina de vida, os estudos, sua atividade profissional, preservando a estrutura socioeconômica que melhora muito o prognóstico.
Existem estudos denominados “Intervenção Precoce” que defendem o início do tratamento antes da manifestação completa da doença. Um deles está em andamento no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Quando se detecta alto risco para a psicose, e existem critérios para determinar isso, prescreve-se o tratamento precoce a fim de evitar o desenvolvimento completo da doença.

Drauzio – Qual é a eficácia do tratamento?
Wagner Gattaz – O tratamento tem boa eficácia para fazer regredir os sintomas negativos. Em muitos casos de adultos jovens e adolescentes, é possível conseguir que eles não interrompam suas atividades e mantenham boa reintegração social, o que evita muitos danos causados pela esquizofrenia.

Drauzio – Esses medicamentos ainda produzem alguns efeitos colaterais. Quais são os mais frequentes?
Wagner Gattaz – A primeira geração de medicamentos, que continuam sendo usados inclusive porque são mais baratos, atua bloqueando o sistema cerebral da dopamina. Esse bloqueio simula os sintomas da doença de Parkinson, uma patologia causada exatamente pela falta de dopamina no cérebro, e ocorrem problemas motores, tremores, torcicolos violentos e rigidez muscular.
Esses efeitos colaterais mais graves da primeira geração foram amplamente abolidos com os medicamentos introduzidos na última década. São mais caros, embora não custem muito se comparados com outros métodos terapêuticos na medicina. Alguns deles provocam ganho de peso, que pode ser controlado com a troca do remédio.

Drauzio – A administração desses medicamentos é cômoda para os pacientes?
Wagner Gattaz – A administração é cômoda, uma dose tomada por dia. Atualmente, estão sendo introduzidos antipsicóticos injetáveis, isto é, uma injeção que o paciente toma a cada duas ou quatro semanas. Isso facilita muito o tratamento e sua manutenção.

ORIENTAÇÃO AOS FAMILIARES E PACIENTES

Drauzio – Como devem ser orientados os familiares para lidar com os doentes?
Wagner Gattaz – A primeira medida é esclarecer a família sobre as características da doença. Ela precisa entender que, se por acaso o paciente teve um surto de nervosismo ou agressividade (o que é raro em esquizofrenia), não se trata de mau caratismo ou maldade. Ele tem uma doença orgânica como qualquer outra, uma doença neuroquímica da qual é muito mais vítima do que agente malfeitor.
Essa informação ajuda a família a compreender melhor o problema e as necessidades do doente. Em um terço dos casos, mesmo a psicose desaparecendo, fica uma pequena sintomatologia residual. A pessoa não volta mais a ser a mesma. Permanece a diminuição dos impulsos e ela não consegue mais dar conta do que fazia antes. Por isso, muitas vezes, é preciso baixar as expectativas em relação ao portador de esquizofrenia. Esse é um fator que pode até ser medido em questionários conhecidos como “Emoções Expressas da Família”. Trabalhos mostram que, quando se reduz a pressão familiar, melhora o prognóstico e diminui o número de recaídas.

Drauzio – Além da medicação, o que você recomenda aos doentes quanto ao estilo de vida?
Wagner Gattaz – Passado o surto agudo, os pacientes podem beneficiar-se participando de diferentes programas que vão ajudá-lo a reintegrar-se na sociedade. São programas que incluem desde terapia cognitiva específica para transtornos esquizofrênicos a fim de ensiná-los a  lidar com os sintomas e a doença, até um treinamento de profissionalização para aqueles que não conseguem retomar as atividades que exerciam antes ou treinamento em oficina abrigada para ajudá-lo a reintegrar-se na sociedade. O tratamento ideal é sempre o que proporciona melhor reintegração social do paciente.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

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TRATAMENTOS DE BIPOLARIDADE

Como regra, quem tem bipolaridade do humor se beneficia enormemente do tratamento, que envolve uma combinação de abordagens, como a psicoeducação (conhecer o próprio temperamento, o seu padrão de humor e a bipolaridade), psicoterapia (para harmonizar os padrões de pensamento, de relacionamento e elaborar novas estratégias), bons hábitos de vida e tratamento farmacológico com estabilizadores de humor. 
Os antidepressivos devem ser reservados para casos restritos porque muitas vezes desestabilizam ainda mais o humor.
Estabilizadores de humor não-farmacológicos
Sono de 7 a 9 horas por dia
Exercício físico, principalmente aeróbico
Boas relações afetivas, ter um bom grupo social, ter um confidente
Artes, hobbies, esportes, meditação, animal de estimação...
Alimentação saudável, particularmente peixe
Trabalhar com o que gosta de fazer
Primar pelo meio-termo e a ponderação nos momentos difíceis
Fé e espiritualidade

TIPOS DE BIPOLARIDADE

TIPOS DE BIPOLARIDADE

A bipolaridade pode se manifestar em diversos graus e padrões, que são representados em uma classificação de I a IV, além da ciclotimia.

Tipo 1
É a forma mais intensa de bipolaridade por apresentar fases de mania plena, com consequências maiores e franca alteração do humor. Também ocorrem fases de hipomania.
Relato de Caso:
Leandro sempre foi ativo e social, mas com 22 anos começou a ter fases em que ficava mais hostil e arrogante. Chegou a ter alguns problemas em festas e aumentou o consumo de álcool. Começou a ficar mais agitado durante uma semana, falando muito, com muitas ideias e poucas horas de sono por noite.
Na semana seguinte ficou claramente eufórico, acelerado, não parava de falar, trocava de assunto toda hora, tomava a liberdade de abraçar e beijar mesmo quem não conhecia, querendo lhes passar sua "energia contagiante", pois se sentia iluminado e poderoso (quadro de mania).
Sua namorada reclamou da busca excessiva de sexo e da indiscrição de Leandro ao cantar suas amigas na frente dela. Seus pais percebiam que algo de muito anormal estava acontecendo e, por causa da sua indiscrição social, da grandiosidade desmedida e dos gastos desmedidos de Leandro em festas e em acessórios para o carro, foi feita uma internação.
Leandro melhorou bastante com o tratamento com lítio e uma dose baixa de um antipsicótico, tendo alta três semanas mais tarde. No entanto, se negou a continuar o tratamento, o que o levou a ter uma nova crise maníaca seis meses mais tarde, dessa vez ficando internado por um mês.
Permaneceu em tratamento por um ano sem crises e por conta própria foi reduzindo a medicação e se afastando do seu psiquiatra. Quatro meses mais tarde teve um período de uma semana com sintomas de euforia e aceleração, que logo evoluíram para uma fase depressiva com muita apatia e sono.
Ficou internado por 5 semanas, voltou a tomar estabilizadores de humor com boa recuperação e desde então está bem engajado no tratamento, sem crises há 3 anos.

Tipo 2
É uma forma de bipolaridade com fases de hipomania, em que há clara alteração do humor, mas não tão intensa e problemática quanto a do tipo I.
Relato de Caso:
Joana era conhecida pelo seu temperamento forte e seu estilo extravagante. Na escola, era líder da turma e algumas vezes enfrentou os professores. Em sua profissão teve um destaque precoce pela ousadia, originalidade e dedicação extra aos projetos que criava, aos quais se entregava de corpo e alma. Nesses momentos, ficava pilhada, só falava nos seus projetos, dormia pouco, gastava demais em produtos de beleza e às vezes ficava irritada e intransigente com os outros, que não seguiam o seu ritmo (hipomania).
Aos 24 anos passou a ter momentos de muita ansiedade e irritabilidade, comia exageradamente, se desorganizou nas contas e seu padrão de sono ficou instável (humor misto). Passou então a sentir-se triste, emotiva, sem ânimo para trabalhar, algumas noites tinha insônia porque o pensamento não parava e em outras fases dormia até 12 horas seguidas. Esse período instável durou cerca de 3 meses e melhorou espontaneamente na primavera.
Alguns meses mais tarde os sintomas voltaram e ela os relatou para o seu ginecologista, que lhe prescreveu um antidepressivo. Joana sentiu que piorou da ansiedade e ficou ainda mais agressiva. Parou o tratamento em uma semana e o ginecologista a encaminhou para um psiquiatra, que sugeriu outro antidepressivo. Dessa vez a medicação teve um efeito rápido, sendo que estava bem melhor em uma semana (o que é rápido demais para um efeito antidepressivo genuíno), mas depois de 6 meses voltaram os sintomas de maneira mais leve.
O aumento da dose do antidepressivo a deixou mais agitada, sem melhora, com oscilações de humor frequentes. Resolveu trocar de psiquiatra, que revisou o caso junto com a família e dessa vez identificou os sintomas prévios de hipomania e a história de bipolaridade e alcoolismo na família materna. Associou então um estabilizador de humor e aos poucos foi retirando o antidepressivo.
Joana hoje se sente bem, sem os excessos de antigamente, sem sintomas depressivos e sem efeitos colaterais da medicação. Pode reorganizar sua rotina, passou a fazer exercícios físicos e a dormir mais, o que possibilitou uma pequena redução da dose do estabilizador de humor.

Tipo 3

É semelhante ao tipo II, mas o quadro de hipomania ou até mania acontece só com o uso de antidepressivos ou psicoestimulantes. No entanto, o temperamento da pessoa tende a ser mais forte e dinâmico e pode voltar a ter elevações espontâneas do humor mais tarde.
Relato de Caso:
Adriana era uma arquiteta casada que teve um filho aos 28 anos. Alguns dias após o parto, ficou chorosa e desanimada, com dificuldades de cuidar do filho, mas se recuperou um mês mais tarde sem tratamento. Aos trinta anos voltou a sentir tristeza e desânimo, o sono aumentou para 11 horas por dia, não conseguia se levantar de manhã e passou a ter dificuldades de concentração no trabalho.
Como não melhorava, procurou uma psicóloga, que identificou sua fase depressiva, iniciou uma psicoterapia de apoio e a encaminhou para o psiquiatra para medicá-la. O psiquiatra prescreveu um antidepressivo e um calmante.
Adriana passou a se sentir muito bem em duas semanas, largou a terapia, começou a sair com as amigas solteiras para festas e a comprar roupas caras. Seu marido começou a perder a paciência e disse a Adriana que ela estava muito saliente e gastando sem necessidade (hipomania). Adriana disse que a vida era para ser vivida intensamente e que se ele não estivesse satisfeito, que fosse embora.
Seu marido ligou para o psiquiatra, que percebeu a virada do humor para a hipomania e orientou que suspendessem o antidepressivo e o procurassem no dia seguinte. Adriana foi a contragosto, mas o psiquiatra explicou que o antidepressivo fez com que ficasse eufórica, imprudente e com excesso de energia, e por isso, sua medicação tinha que ser trocada.
Adriana aceitou a mudança para um estabilizador de humor por entender que isso estava prejudicando suas relações. A retirada do antidepressivo causou algum desconforto, como tonturas e ansiedade, mas em uma semana seu marido informou que ela estava de novo reagindo como costumava.
Semanas mais tarde, Adriana reclamou de que estava se sentindo sem graça, vendo a vida em preto e branco. O psiquiatra aos poucos substituiu seu remédio por um outro estabilizador de humor mais eficaz para fases depressivas e Adriana ficou muito bem, mas sem excessos, riscos ou euforia.

Tipo 4

São pessoas que têm um temperamento mais arrojado, empreendedor, jovial e expansivo, que passam a ter o humor mais turbulento e depressivo na meia-idade. 
Relato de Caso:
César era um empresário que tinha se destacado na carreira pela ousadia e criatividade, fazendo com que seu pequeno negócio virasse uma empresa de referência na área.
Aos 53 anos, procurou o psiquiatra por perceber que não tinha mais prazer no seu trabalho, tinha enjoado dos amigos, achava que todos à sua volta queriam "puxar o saco" para tirar vantagem, e passou a ficar mais tempo em casa na cama, pensando inclusive em se matar.
Seu pai havia sido um homem arrojado e festeiro, tinha ganhado e perdido muito dinheiro na vida, e acabou cometendo o suicídio aos 56 anos de idade em uma fase turbulenta.
O psiquiatra identificou as manifestações de humor elevado e instável, assim como o temperamento forte de César e seu pai. Por isso, prescreveu um estabilizador de humor eficaz nas fases depressivas e propôs uma terapia breve.
César ficou bem melhor em poucas semanas e também mudou seu estilo de vida, passando a valorizar o contato com a família e os amigos, voltou a fazer trabalhos em madeira como hobby e a jogar tênis. Há 4 anos não tem alterações de humor e se diz muito satisfeito com sua vida.

Ciclotimia

É um humor oscilante e desregulado, com sintomas de humor elevado e depressivo, mas que não chegam a configurar fases marcadas de hipomania ou depressão.
Relato de Caso:
Fernanda é uma pessoa conhecida pelo seu temperamento forte, pelo seu estilo 8 ou 80 e pela franqueza. É muito influente no seu grupo de amigas e no escritório de advocacia em que trabalha. No entanto, seus relacionamentos íntimos eram muito conturbados pela instabilidade do seu humor, que esteve melhor enquanto fazia exercícios físicos 4 vezes por semana.
Nos últimos 2 anos, no entanto, percebe que as fases de irritabilidade e apatia ficaram mais fortes e frequentes. Fica indignada por não conseguir aproveitar o que tem, como se sempre estivesse faltando alguma coisa.
Quando foi à psiquiatra, disse ter puxado ao seu pai, que tinha frequentes ataques de explosividade e humor carregado. Quando a psiquiatra perguntou se era uma pessoa de altos e baixos, Fernanda respondeu: "TOTAL!".
O primeiro estabilizador de humor foi substituído por causa de um efeito colateral, mas o segundo foi eficaz e bem tolerado. Voltou com seu ex-namorado, que brinca ao dizer que não voltou a namorar a mesma Fernanda, porque aquela Fernanda explosiva, irritada e ciumenta não tem nada a ver com a atual.

Depressão unipolar
Não faz parte da bipolaridade.

Trata-se de uma queda do humor, em geral mais gradual (semanas a meses) e relacionada com eventos estressores que a pessoa tenha vivenciado. O antidepressivo reestabelece o humor em algumas semanas sem causar excessos de humor na direção da mania.
Relato de Caso:
Eunice estava com 55 anos e era principal cuidadora da sua mãe, que estava com a doença de Alzheimer. Sua mãe vinha causando vários problemas pelo comportamento imprevisível e agitado, deixando Eunice sempre em estado de alerta. Essa situação já vinha ocorrendo há mais de um ano, mas vinha se agravando.
Eunice passou a se sentir impotente, chorava sozinha, perdeu o prazer em outras coisas, seu apetite diminuiu e passou a ter insônia. Seu desânimo começou a prejudicar seu rendimento e várias vezes queria fugir para bem longe de casa. Seu temperamento era cordial e sereno, e sua família não tinha história de bipolaridade.
O psiquiatra indicou o tratamento com um antidepressivo. Três a quatro semanas mais tarde, Eunice referiu estar se sentindo mais forte novamente e seus sintomas diminuíram bastante. Seu humor não ficou exaltado demais ou irritável.

Fonte:http://www.bipolaridade.com.br/

Como Tirar Passe Livre Interestadual

Os brasileiros com deficiências têm direito a tirar um passe livre interestadual que lhes possibilitará viajar gratuitamente por todo o país.

Este é um direito garantido as pessoas CARENTES portadoras de deficiências, seja deficiência física, visual, mental, ou renal crônica.

E os pacientes psiquiátricos também têm direito, como explicarei mais abaixo.

Para solicitar o passe é preciso comprovar que a família tem uma renda de, no máximo, um salário mínimo por pessoa. Enfim, um salário mínimo per capita, um salário mínimo por cabeça.

Ou seja, se você recebe dois salários mínimos, mas tem outra pessoa na sua casa que não tem renda, você tem direito ao passe por ser comprovadamente carente.

Outro exemplo: se você recebe quatro salários mínimos, mas tem três filhos pequenos que naturalmente não trabalham, você tem direito, pois a soma das pessoas da casa dá quatro.

Outro exemplo: se você e seu esposo ou esposa recebem cinco salários mínimos, mas têm três filhos pequenos que naturalmente não trabalham, você tem direito, pois a soma das pessoas da casa dá cinco. E assim por diante.

Documentos necessários para tirar o passe livre interestadual



Você deverá baixar o Atestado da Equipe Multiprofissional, uma papelada que deverá ser preenchida por profissionais, comprovando a deficiência.

No caso das pessoas que fazem tratamento psiquiátrico, o psiquiatra e um outro profissional de saúde mental deverão preencher o Atestado da Equipe Multiprofissional.

Você pode baixar o Atestado da Equipe Multiprofissional indo ao site http://www.transportes.gov.br/index/conteudo/id/36037

Depois você deverá preencher o Requerimento - Formulário Modelo.

Você pode baixar o Requerimento - Formulário Modelo indo ao site http://www.transportes.gov.br/index/conteudo/id/36043

Para ver mais informações sobre o passe, vá para a página do ministério dos transportes clicando aqui no link.

Os pacientes psiquiátricos de todo o Brasil têm direito ao passe livre interestadual.

As pessoas que fazem tratamento psiquiátrico contínuo podem solicitar o passe, inclusive, vários pacientes psiquiátricos já o possuem.

Várias pessoas com transtorno mental possuem o passe. Pois os psiquiatras e profissionais de saúde mental entendem que a pessoa, apesar de não ser deficiente mental, é considerada crônica, enfrenta várias dificuldades, e necessita muito de LAZER, que é essencial para sua recuperação.

Link para o Manual do Beneficiário, para que você possa se informar mais sobre o passe interestadual: http://www.transportes.gov.br/index/conteudo/id/36024

Link para o Requerimento - Formulário Modelo: http://www.transportes.gov.br/index/conteudo/id/36043

Link para o Atestado da Equipe Multiprofissional: http://www.transportes.gov.br/index/conteudo/id/36037